[Um excerto de uma história minha... Sei que está desastroso mas não tinha nada para postar...]
(...)
Chovia naquela noite. As gotas escorriam suavemente pela janela como as lágrimas pela minha face. Não costumo chorar desta maneira, apenas grito com o coração. Não sabia porque chorava. Nem sabia sequer se eram lágrimas de alegria ou de tristeza. O que é certo e sabido é que naquele momento eu não estava minimamente interessado nem na chuva nem nas lágrimas. Estava sentado à espera que ela aparecesse. Observava-a todos os dias. Todas as noites ela vinha para o seu jardim sobre o qual eu tinha vista privilegiada. Ela pintava telas, desenhava, lia, ouvia música, dançava e falava para as árvores. Não se podia considerar normal perante o padrão a que estava habituado, mas era uma das características que me atraia; aquela indiferença que tinha para com o mundo... Na verdade, não conhecia muitas. Limitava-me a cumprimentá-la quando ela também o fazia e mesmo essa simples tarefa começara a tornar-se difícil. A sua voz forte, ligeiramente baixa, mas meiga, minimizava-me e reduzia-me a pó. Sentia-me fraco mas com um coração poderoso, porém não totalmente preenchido. Frequentemente, nem lhe conseguia responder. O coração tirava-me a fala.
A sua beleza fascinava-me. O cabelo era ruivo, encaracolado, cor de fogo, e os lábios finos e delicados. Aqueles olhos verdes, escuros (por vezes castanhos amarelados, consoante a luz), grandes e misteriosos petrificavam-me. Perdia-me tão completamente naqueles olhos como uma formiga num prado. Sentia-me pequeníssimo perante eles. Tentava decifrá-los, mas duvido que o conseguisse porque sempre via calma e nunca um único sinal de raiva ou tristeza.
Esperei mais algum tempo mas ela continuou sem aparecer. O meu desejo em vê-la era tão grande que tapou a minha lógica e ignorei completamente a chuva. No jardim dela só via seis gatos dos treze que ela possui. Todos os gatos da rua devem ser dela.
Fiquei a admirar as suas pelugens molhadas e a elegância do seu andar até que ela apareceu. Aproximei a cabeça rapidamente da janela que estava terrivelmente gelada. Ela veio de gabardine vermelha. Fiquei suspreendido porque ele vestia-se sempre de preto ou de branco. No branco mostrava a sua paz perante o mundo e no preto escondia todas as suas cores como eu ocultava no papel os meus sentimentos por ela.
Sentou-se na relva, apesar de ter um banco ao lado. Já devia estar habituado a este tipo de acções da parte dela, porém, surpreendia-me sempre com as suas acções imprevisiveis. Para minha grande desilusão, fechou os olhos que eu almejava contemplar. Concentrei-me nos seus lábios perfeitos. Imaginava o dia em que eles tocassem nos meus numa noite em que a lua nos iluminasse e mostrasse uma beleza superior. Assim a costumo desenhar com palavras, abraçada a mim. A escrita leva-me a ilusões que me fazem sofrer e que ao mesmo tempo me dão força e esperança. Só queria poder ler os seus pensamentos, atravessar a sua alma e conseguir dizer-lhe o que realmente sinto. O pensamento fala por mim e não dá vez ao coração. Passo assim todos os dias… Sofro porque amo. Sofro por vê-la e não lhe poder tocar nem falar. Sofro mais quando não a posso ver porque tenho de a imaginar e com esses fantásticos pensamentos, desconcentro-me em tudo o que faço. Ou no que acabo por não fazer...
Passou algum tempo e ela entrou para dentro de casa com um ar um pouco sério. A sua meditação (ou o que quer que fosse que ela estivesse a fazer) deveria ter sido em vão. No entanto, continuava com o olhar sereno.
Eram quase onze horas e estava lua cheia. Só se conseguia ver a sua luz. A beleza da lua era escondida pelas nuvens cinzentas que a sobrepunham. Finalmente percebi o que não devia perceber porque não tem explicação. Apetecia-me andar de bicicleta e ia fazê-lo. Foi um desejo repentino e quis concretizá-lo. A noite era fantástica, mesmo chuvosa e sombria.
Peguei na minha velha bicicleta cheia de teias de aranha e ferrugem e saí à rua. As poças de água reflectiam as luzes da vila e o musgo entre os paralelos brilhava. Ia começar a andar quando a vi. Trazia sacos do lixo nas mãos e pousou-os no passeio. Ficou algum tempo parada a olhar para a lua. Silenciosamente fui ter com ela. Sem olhar para mim cumprimentou-me e eu retribui-lhe a saudação. Dirigi-me a ela, desta vez sem qualquer indecisão. Involuntariamente agarrei-lhe o braço esquerdo e fitei-a. Os seus olhos brilhavam mais que a lua. Não teve grande reacção mas olhou-me fixamente. Sentia que ela conseguia ler-me mas eu continuava com duvidas acerca do seu olhar. Não pronunciámos nenhuma palavra mas aquele momento de silêncio, para mim, disse mais que mil palavras.
(...)
Está muito giro! Adorei! Henrique, não te esqeças qando publicares o teu 1º livro, sou a primeira a qem das um autografo!
ResponderEliminarestou sem palavras...
ResponderEliminarestas sempre a surprender me....
queria ter a tua inspiração....
Ja te disse mais do que uma vez...
ResponderEliminarTens jeito para a coisa. Ponto final.
xD
Continua assim!