domingo, 18 de abril de 2010

Sem titúlo, pode ser?

Estou a tentar escrever uma história ("Fechar as portas"). Outra. Portanto irei publicar menos textos meus no blog. Deixo aqui um excerto...
























(...)

Com a visão fraca, como se os seus olhos fossem vidros embaciados, por ser de manhã, decidiu ir lavar a cara. Quando se olhou ao espelho, algo estava diferente… A sua cara estava a destorcer-se, rodando muito lentamente… Apoiou-se com uma mão no espelho pois sentia-se estranho e sem força. A sua mão branca começou enterrar-se como uma erva daninha, o espelho estava-se a derreter, tornando-se viscoso. Já sem saber onde se segurar caiu por onde agora não era uma parede, mas sim um grande buraco com azulejos derretidos a escorrer para o chão.(...)
Abriu os olhos com dificuldade e levantou-se calmamente. Estava tudo muito escuro quando, do nada, viu uma intensa luz aproximar-se e contemplou-a até ao ponto de perceber que era um comboio… Num segundo, ficou pálido e arregalou os olhos fechando-os feroz e rapidamente de seguida.
Reabriu os olhos cautelosamente. Estava tudo agora claro e vazio. O comboio não tivera produzido qualquer tipo de som e continuava no ar um silêncio desagradável. Estaria ele morto? Confuso, olhou para o chão e em frente aos seus chinelos viu um comboio de corda… Era um passado brinquedo dele... Baixou-se, tocou-lhe e este esvaziou-se como se fosse um insuflável ou um balão. Não percebia o que se estava a passar. Morto não podia estar, pois sentia o seu coração bater aceleradamente, estaria então a sonhar? Sempre tivera sonhos muito esquisitos e sem sentido e este poderia muito bem ser um desses. Suspirou. Depois de o fazer, o comboio voltou a encher-se, cresceu e tornou-se, pelo menos aparentemente, real.
Entrou no grande comboio de corda. Era muito espaçoso mas só tinha duas cadeiras. Tentou-se sentar numa delas mas esta pareceu empurrá-lo. Atrapalhado, sentou-se na outra que não o rejeitou. Pela janela, ligeiramente embaciada, distinguia vultos pretos em pequenas gôndolas em cima de altas arvores… Que sentido teria aquilo? Ele não sabia, mas pelo menos ganhara a certeza de que estava a sonhar.
O comboio parou silenciosamente. Levantou-se da cadeira e tentou abrir a porta do comboio. Esta, mal ele lhe tocou, dissolveu-se no ar.

(...)

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